segunda-feira, 25 de março de 2013

Satanismo – O Início da Inquisição

Finalmente, vamos começar a falar um pouco sobre a Inquisição (nesse caso, sobre o começo) para podermos entrar, nos próximos Posts, nos detalhes da Inquisição.
Como já foi dito no Post Satanismo na Idade Média, a Inquisição tem início no combate a heresia Cátara, na França (e já vamos falar sobre isso). Para que não seja preciso repetir o que já foi dito sobre quem são os Cátaros, recomendo a leitura desse Post citado.
Mesmo começando no processo contra os Cátaros, o início oficial da Inquisição se dá com o Papa Gregório IX, com as bula ‘Ille humani generis” e a “Licet ad capiendos”. Ambas são referentes a Inquisição e contém declarações sobre esse processo, como:
Portanto vós.., estais autorizados.., a privar clérigos de seus benefícios para sempre, e agir contra eles e todos os outros, sem apelação, chamando a ajuda do braço secular, se necessário.
Essa declaração estava sendo dirigida aos Dominicanos, Ordem fundada por Domingos de Gusmão. O tribunal estabelecido pelo Papa também era composto por Irmãos Dominicanos.
Na verdade, a bula que instituiu a Inquisição é a “Excommunicams”, que determinava como os Inquisidores profissionais deveriar localizar e persuadir os hereges para que eles se retratassem. No entanto, as outras bulas costumam ser mais citadas porque nessas determinações, da “Excommunicams”, não tinha nada que pudesse ser entendido como “cruel”ou como tentativa de reprimir a crença alheia através da “força”.
A ideia era preservar a disciplina eclesiástica, tentando acabar com o sincretismo das Religiões. Só que, como já sabemos, essa ideia não permaneceu tão simples assim.
Em contrapartida, um pouco antes da ‘“Licet ad capiendos”, Gregório IX havia lançado a bula “Etsi Judaeorum”, em que ele determinava que os judeus, nos países cristãos, fossem tratados com a mesma humanidade com que os cristãos desejavam ser tratados em “terras pagãs”.
É uma bula que merece elogios (diferente das demais já citadas). O curioso é que alguns anos depois, apesar de ter “julgado” em favor dos judeus, isso não o impediu de – também com outra bula – inspecionar e confiscar os livros do Talmud Judaico, pelos prelados de França e Espanha.
Enfim, o importante é que em 1234 a Inquisição já estava oficialmente ativa, tendo dois Inquisidores oficiais, nomeados para atuar em Toulouse.

O Combate Intelectual

Voltando a época dos Cátaros, já sabemos que as práticas inquisitórias surgiram justamente na Cruzada empreendida contra os Cátaros. Em 1209 (por exemplo), Simon de Montfort (juntamente com seu exército) já havia queimado muitos cátaros nas terras da França, no início da Cruzada Albigense.
Quanto ao que aconteceu, não há muito o que questionar, mas existem algumas teorias com relação a participação de algumas pessoas nesse processo.
Há divergências entre alguns historiadores com relação ao papel de Domingos de Gusmão para o surgimento da Inquisição, principalmente com relação a ele estar a favor ou não de que essa crença fosse eliminada a força.
Portanto, vamos falar primeiro de como Domingos teve contato com esse movimento, na França. Depois, passaremos para as especulações.
Pouco menos de dois anos antes da Cruzada Cátara ter início, o Bispo de Osma passava pelo sul da França, juntamente com o subprior dos monges da catedral de Osma, Domingos de Gusmão. Lá ele passava a conhecer um enorme grupo de heréticos que tinha muita força na região e que não poderia ser ignorado pela Igreja.
Domingos de Gusmão havia estudado por mais de 10 anos na Universidade de Palência e era conhecido pela sua retórica e grande capacidade nos debates. Antes dessa viagem com o bispo de Osma, Domingos já havia feito seu primeiro contato com os Cátaros há poucos anos, em sua primeira viagem à frança. Viagem essa que, ao que parece, lhe causou certa indignação.
Os Cátaros se diferenciavam por terem pregadores itinerantes, que eram muito respeitados pelo seu discernimento, conhecimento teológico e articulação dos argumentos, bem diferente dos Padres locais, que eram muito ignorantes e mal educados, totalmente incapazes de ter um debate teológico profundo.
Além do mais, a alta hierarquia dos eclesiásticos era conhecida por seu luxo e extravagância, que também era muito diferente dos Cátaros, que eram pessoas muito pobres e simples.
Diante disso, Domingos decidiu combater os Cátaros dentro de seu próprio jogo. Para fazer frente aos pregadores itinerantes dos Cátaros, ele estabeleceu sua rede de monges itinerantes que foram educados e preparados adequadamente para os debates religiosos e eruditos. Além disso, eles também levavam uma vida muito simples (como realmente deveriam se comportar os membros do clero).
Domingos foi o primeiro a usar a cultura como ferramenta de crescimento para a Igreja.

As Especulações

Devido a esse “envolvimento” com relação aos Cátaros, muitas especulações surgiram acerca de Domingos de Gusmão. Uma delas é um discurso, atribuído a ele, no qual incentivaria o uso da força quando as palavras não funcionassem.
Por muitos anos já, tenho-vos entoado palavras de doçura, pregando, implorando, chorando. Mas como diz a gente de minha terra, onde a bênção não adianta, a vara prevalecerá. Agora convocaremos contra vós chefes e prelados que, ai de mim, se reunirão contra esta terra… e farão com que muita gente pereça pela espada, arruinarão vossas torres, derrubarão e destruirão vossas muralhas, e vos reduzirão a todos à servidão.., a força da vara prevalecerá onde a doçura e as bênçãos não conseguirão realizar nada.
Há também uma especulação quanto a forma com que Domingos cuidava de sua imagem.
Sabendo que sua imagem de asceta era importante, conta-se que ele tinha o hábito de, ao se aproximar de uma hospedaria noturna que ele fosse passar a noite, ele parava em um rio para beber à vontade, para que assim pudesse não beber quase nada depois (na frente das pessoas) e manter a sua imagem de dureza, severidade e temperança.
Mas, como já foi dito, esses pontos se tratam apenas de especulação. Só as coloquei porquê (como muitos já perceberam, no decorrer do blog) eu defendo a importância de se estudar as várias teorias diferentes de um mesmo elemento.
A nível de curiosidade, Domingos só começou a ser visto como Inquisidor a partir da afirmação de Bernardo Gui (XIV), um famoso inquisidor dominicano, que tentou colocar o fundador de sua ordem (Domingos) como sendo um grande inquisidor. Para quem não conhece, Bernard Gui chega a aparecer na Obra de Umberto Eco, “O Nome da Rosa”. Para quem não viu o filme, recomendo.
Por fim, independente de qualquer uma dessas coisas, Domingos foi um grande homem – de muita importância para a Igreja – que, ao meu ver, não tem o reconhecimento que deveria pelos católicos do nosso País. A grande maioria (para não dizer todos) sabe quem foi Agostinho, São Tomás de Aquino, São Francisco de Assis e vários outros, mas nunca ouviram falar de São Domingos de Gusmão.
O próximo Post da categoria (“A Inquisição foi mesmo tão Cruel?”) deveria ser parte desse Post, mas como está muito grande (e esse também já está), terá que ficar para o próximo mesmo.

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